Às vezes a cabeça está cheia de ideias. A vontade de criar, melhorar de vida, realizar algo novo.
E o começo até empolga. Você planeja, sonha, rascunha. Faz com carinho. Mas, de repente, tudo vai ficando pesado, e o projeto para.
Já viveu esse ciclo?
Talvez, como eu, você já tenha iniciado algo com todo entusiasmo do mundo — um negócio, um curso, um canal no youtube, um projeto pessoal — mas não levou até o fim.
E, no silêncio do quarto ou na cobrança interna, veio a pergunta incômoda:
“Por que eu nunca termino o que começo?”
Por muito tempo, pensei que isso fosse falta de foco, disciplina ou força de vontade.
Mas hoje, olhando com mais maturidade, percebo: existem vários motivos legítimos pelos quais projetos são abandonados — e entender esses motivos é um passo essencial pra deixar de se abandonar no meio do caminho.
Mas… por quê?
Essa é a pergunta central. E na verdade, não existe uma única resposta. O abandono pode ter várias faces — algumas silenciosas, outras gritantes.
Aqui estão algumas que observei em mim (e talvez existam em você também):
1. Quando a motivação é rasa ou mal definida
Começar algo sem saber o que realmente se busca pode ser o primeiro passo para parar.
Se a motivação é apenas financeira, para agradar alguém, ou para fugir de outra dor, o projeto nasce instável.
Sem um “porquê” profundo, qualquer dificuldade vira justificativa pra desistir.
2. Quando a crítica corta o ânimo
Você compartilha sua ideia com alguém — e recebe de volta mais dúvida do que apoio.
Às vezes, nem é maldade. Mas a forma como a crítica chega abala a confiança, faz parecer que você estava iludido.
Isso toca em inseguranças antigas, e o projeto começa a desmanchar por dentro.
3. Quando não há espaço interno para continuar
Às vezes, a gente está tão cheio por dentro — de demandas, cobranças, ruídos — que não sobra energia emocional pra sustentar algo novo.
E aí a desistência não é falta de vontade. É falta de espaço psíquico.
4. Quando o perfeccionismo te paralisa
Esse, pra mim, tem sido o mais sutil — e mais cruel. Porque ele vem disfarçado de cuidado, de zelo, de querer fazer bem feito. Mas, na prática, vira um fardo.
Fico horas, dias, tentando planejar tudo da forma certa. Escolher as cores, o texto, o nome perfeito… Me preocupo em montar o projeto “pronto”, como se ele já precisasse nascer incrível, sem margem para erro.
E esse esforço em acertar tanto transforma o processo criativo em algo pesado, massivo, cansativo.
Quando percebo, o projeto já me esgotou — antes mesmo de começar.
E aí eu paro. Não por falta de desejo, mas por exaustão.
É como se o medo de errar me impedisse de experimentar.
Inteligência emocional: entender o que sentimos muda tudo
Quando a gente desiste de um projeto, o impulso é se julgar.
A mente logo lança diagnósticos duros: “você é inconstante”, “você se sabota”, “você nunca termina nada”. Mas esses rótulos só reforçam o ciclo.
No livro Inteligência Emocional, Daniel Goleman mostra que muito do que chamamos de “falta de disciplina” é, na verdade, desconexão emocional. A gente sente — mas não nomeia. A emoção cresce por dentro — mas a gente continua tentando funcionar no automático.
“Se você não tem consciência do que sente, não pode escolher como vai reagir.”
Ou seja, sem entender o que nos move por dentro, vamos tomando decisões baseadas em impulsos emocionais que nem sempre reconhecemos.
Desistimos não porque decidimos desistir, mas porque fomos emocionalmente empurrados a isso — e só percebemos depois.
Quando você começa a reconhecer os gatilhos emocionais que cercam seus projetos — como o medo de errar, a vergonha de parecer iniciante, a ansiedade por validação — você para de lutar contra si mesmo e começa, de fato, a se compreender.
E aí, ao invés de tentar se forçar a continuar, você pode construir um ambiente emocional onde continuar faça sentido.
Como lidar com isso?
Não existe fórmula mágica pra manter constância. Mas existe um caminho mais consciente: o da auto-observação sem julgamento, e da ação imperfeita, porém honesta.
Aqui vão algumas práticas que tenho tentado adotar — e talvez te ajudem também:
1. Entender o que você realmente busca
Antes de começar, pergunte: por que eu quero fazer isso?
Se a resposta for vaga ou forçada, talvez ainda não seja hora.
2. Dê espaço para começar pequeno
Ideias grandes não precisam começar grandes. Elas só precisam começar vivas — e, de preferência, leves o suficiente pra que você consiga carregá-las nos primeiros passos.
3. Identificar o que paralisa
É medo? Exigência? Falta de apoio?
Nomear o que trava é o primeiro passo pra atravessar.
4. Reescreva o diálogo interno
Substituir o “você sempre desiste” por “o que te cansou dessa vez?” muda tudo.
Gentileza com sua história constrói constância verdadeira.
Pra fechar
Desistir de um projeto não te faz fraco.
Te faz humano.
Mas se você entender por que está desistindo, você começa a sair do ciclo — e, aos poucos, a criar uma relação mais leve com suas ideias.
Menos cobrança. Mais verdade.
Porque, no fim, não é sobre terminar tudo o que se começa.
É sobre começar o que faz sentido — e continuar, mesmo quando não estiver perfeito.
Referências
Esse post foi inspirado em reflexões pessoais e também em conteúdos que li e reli, aos poucos, com mais maturidade.
Estou montando uma estante virtual, onde vou listar os livros que já li, os que comecei, os que parei no meio e aqueles que ainda quero ler. É uma forma de registrar minha caminhada — e, quem sabe, compartilhar isso com mais gente.
Se você curte esse tipo de troca e quiser sugerir livros pra eu ler, vai lá na página de contato e me envie uma mensagem.
Vou gostar muito de receber suas indicações 🙂
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